sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

SOCIOLOGIA: Domenico De Masi (Itália / 1938 - hoje)

“Possuir um interesse em comum hoje não significa que se terá também outros interesses em comum amanhã. Obtido o objetivo momentâneo, cada um passa a outros objetivos, diversos entre si. E, portanto, passa a formar outras alianças.”



“É preciso não impedir o progresso, mas geri-lo de  forma a criar uma felicidade mais difundida.”

“...quem chega primeiro ocupa as posições centrais na sociedade e com elas o poder de projetar o futuro não só para si mas também para os outros. É isto que está em jogo. O meu presente foi projetado há algum tempo por um certo Bill Gates, que já então dava por certo não só o advento da Internet, mas também o da engenharia genética e da biotecnologia, enquanto eu perdia tempo, custando a compreender as suas vantagens.”

“A lentidão é a característica da prudência. Todos os prudentes são lentos. E todos os provérbios induzem à lentidão: 'Devagar se vai ao longe', 'O ótimo é inimigo do bom', 'O afobado come cru', 'Melhor um pássaro na mão do que dois voando', 'Quem espera sempre alcança'. São apelos que tem a marca rural, que influenciam personalidades inseguras, condenadas a papeis marginais.

Não me coloco ao lado dos vencedores, pelo amor de Deus, de jeito nenhum, muito pelo contrário, tenho a propensão natural de posicionar-me ao lado das vítimas e dos perdedores. Quais os comprimidos irão tomar, como encararão a velhice, que carros dirigirão, que tipo de aposentadoria vão receber, que tipo de comida e bebida lhes servirá como alimento e a que filmes e novelas assistirão: tudo será decidido pelos outros.

O nosso é um mundo baseado na velocidade. Pode-se amar ou rejeitar tudo isso. Porém é preciso fazê-lo com consciência.”



“No curso da sociedade rural, a corrida consistia em apropriar-se dos produtos da terra, e a velocidade não era um fator muito determinante, porque a produção agrícola dependia dos tempos ditados pela natureza, das estações do ano.

A sociedade industrial é com efeito a primeira a girar em torno do conceito velocidade, dedicando-se ao máximo na corrida contra o tempo, que chamava de "eficiência": vence quem consegue produzir mais coisas em menos tempo, mesmo que se trate de coisas que não servem para nada. 'Tempo é dinheiro'. Para medir esta corrida foram construídos cronômetros cada vez mais precisos: um relógio de preço normal atrasa um milionésimo de segundo a cada cem anos.



Quando estávamos certos de ter atingido o ápice da velocidade com nossos instrumentos mecânicos, eis que surge a eletrônica com seus microprocessadores, que a cada dezoito meses dobram de potência e que já são capazes de desempenhar um bilhão de cálculos por segundo.

Nasce assim a sociedade pós-industrial que não mais gira em torno da apropriação dos produtos da terra, como a sociedade rural, nem da apropriação da mais-valia, como a sociedade industrial, mas gira em torno do poder de projetar o futuro e de impô-lo aos outros.”

“Com respeito à sociedade industrial, a pós-industrial privilegia a produção de ideias, o que por sua vez exige um corpo quieto e uma mente irrequieta. Exige aquilo que eu chamo de 'ócio criativo'. As máquinas trabalharão num ritmo cada vez mais acelerado, mas os seres humanos terão cada vez mais tempo para refletir e para ‘bolar’, idear.”



“Se nossos bisavós padeciam de tédio de dias sempre iguais, nós padecemos de vertigem por instantes sempre diversos, dilatados, acelerados e excessivos, nos quais se orientam somente aqueles que, dotados de sabedoria, sabem viver com estilo, submetendo e sincronizando os ritmos frenéticos do mundo aos próprios biorritmos.”

“Quem não possui essa sabedoria, quem não pode usufruir do luxo da pausa, se vê obrigado a perder a vida verdadeira e se contentar com os seus substitutos. A Coca-Cola é um substituto da água da fonte, o ecstasy também é um substituto do amor, a heroína é uma substituta da viagem. Quem não possui essa sabedoria é obrigado a longas fugas ilusórias, em busca de alegrias que, na realidade, encontram-se ao alcance das mãos.

Mas a felicidade consiste em buscá-la, e quem quer que a busque já está de certa forma no caminho da sabedoria. O viajante milenarista, o neoperegrino himalaiano, o tardio renitente hedonista, o adepto da geração saúde que acaba levando um tiro, o esportista extremo, o erotômato calejado, o noctívago desenfreado, o ecologista impertinente, o neo-espiritualista que se entristece com as grifes de Gucci ou Prada são, todavia, estilhaços diversos de uma busca da felicidade. São várias mônadas que o século XX manteve separadas, mas que no século XXI se coligarão em rede.”



“Num romance policial de Simenon, que chamou minha atenção porque foi escrito no ano em que nasci, em 1938, a certa altura o protagonista diz: 'Debaixo das minhas janelas os carros voam a setenta por hora'. É muito ou é pouco, setenta quilômetros por hora? Para os nossos antepassados, que na melhor das hipóteses viajavam em carruagens, setenta quilômetros por hora devia ser muitíssimo. Sabe-se lá quantos, naquela velocidade, enjoavam. Para os carros de hoje, para as Ferrari e os Masserati, setenta quilômetros é pouco. E é pouquíssimo para quem viaja num avião comercial, à velocidade do som.

Estamos desabituados de uma tal maneira a fazer as coisas com calma, que assim que dispomos de uma hora livre a enchemos de tantos compromissos ou tarefas, que o tempo acaba sempre faltando. Tempo e espaço, ou seja, as duas categorias mais importantes da nossa vida, reduziram-se de tal forma, que dispor deles, isto é ter tempo e espaço, passou a ser um luxo.



Num intervalo de somente duas gerações, graças à higiene, à farmacologia e à medicina, a nossa expectativa de vida aumentou mais do que tinha aumentado ao longo de oitocentas gerações anteriores. Contudo, a pressa nos persegue. Marcello Marchesi dizia: ‘Linda a vida de hoje, vive-se mais tempo, morre-se mais vezes!’.”

“...por maior que seja o número de experiências que se consiga acumular, existirão sempre alegrias outras, belas, que não teremos tempo de experimentar.

Daqui nasce a luta contra o tempo, para tentar roubar-lhe mais chances e ocasiões do que aquelas que o destino gostaria de nos conceder. Daqui brotam as infinitas artimanhas para economizar tempo recorrendo a telefones e aviões, para enriquecer o tempo escutando rádio enquanto andamos de carro. Para programar o tempo, recorrendo a agendas sofisticadas e a cursos de administração do tempo, ou para armazenar o tempo com secretárias eletrônicas e videogravadores.

Neste ponto é que o nosso cérebro corre o risco de entrar em parafuso. Depois de ter desencadeado a corrida contra o tempo, não consegue manter o passo e tenta se “virar em dois”: enquanto faz uma coisa, já está pensando na que vai fazer depois. ‘A vida é’ – dizia Oscar Wild – 'o que acontece enquanto estamos pensando em outra coisa.'



Eternamente mordidos pelo bicho-carpinteiro da velocidade urbana, consumimos o luxo das raras pausas, sonhando ou perseguindo a tranquilidade perdida no mundo rural. Dentro de nós, o impulso à pressa se alterna com o impulso à calma, do mesmo modo que o nosso espírito nômade cede de vez em quando ao nosso espírito sedentário. Mas o ócio é uma arte e nem todos são artistas.

“...cito de memória uma pergunta que Eliot se fazia: ‘Quanta informação perdemos devido à comunicação? Quanto conhecimento perdemos por causa da informação?’ Por trás de todas essas perdas encontra-se a ignorância de vários jornalistas e o condicionamento de muitos editores.”

Hoje “...o campo de domínio é metafísico e não físico. Quando era físico, o vencido deveria ser eliminado fisicamente. A hegemonia das ideias, ao contrário, é mais suave. E tem-se por certo que uma ideia vitoriosa não permanece vitoriosa para sempre. No embate de ideias, a vitória não é nunca definitiva. O vencido de hoje poderá amanhã ter uma ideia nova e vitoriosa. Disso nasce a diversidade das regras do jogo.”


Domenico De Masi


quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

LITERATURA: Gustave Flaubert (França / 1821 - 1880)

"Realmente, não há melhor coisa do que passar-se a noite ao pé da lareira, com um livro, enquanto o vento bate nas vidraças e a luz vai iluminando. E que não se pensa em nada, e as horas passam. E sem sair do lugar, passeia-se por países imaginários, e o pensamento, enlaçando-se com a ficção, demora-se em detalhes, segue o contorno das aventuras. A gente roça pelas personagens e até parece que se palpita sob os seus trajes. Já não lhe tem sucedido muitas vezes encontrar nalgum livro uma ideia vaga que já tivesse tido, alguma imagem meio desvanecida, que vem de longe e parece ser como a exposição inteira do nosso sentimento mais sutil? Eis porque gosto dos poetas... Com efeito, as obras que não nos abalam o coração afastam-se, segundo me parece, da verdadeira finalidade da arte."


Gustave Flaubert

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

LITERATUA E SOCIOLOGIA: Alvin Toffler (Estados Unidos / 1928 - Hoje)

“Portanto, somos nós, aqui, a ter a responsabilidade da mudança. Devemos começar por nós mesmos, aprendendo a não rejeitar antecipadamente o novo, o surpreendente, aquilo que parece ser radical. Isto significa afastar os destruidores de ideias, que apressadamente reprovam qualquer proposta nova como irracional. Eles defendem tudo aquilo que já existe como racional, independente de quanto possa ser absurdo ou superado. Isto significa lutar pela liberdade de expressão e pelo direito de manisfestar as próprias ideias, mesmo quando heréticas, e isto significa iniciar já este processo de reconstrução, antes que a ulterior degradação dos sistemas políticos faça retornar  nas praças o totalitarismo, tornando impossível uma transição pacífica rumo à democracia do século XXI. Se começarmos agora, nós e nossos filhos poderemos participar da reconstrução não somente das nossas obsoletas estruturas políticas, mas da nossa própria civilização. Como a geração de revolucionários do passado, nós temos um destino a criar.”


Alvin Toffler


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

LITERATURA: Vinicius de Moraes (Brasil / 1913 - 1980)

"Sim, teve medo. E quem, em seu lugar, não o teria? Ele não nascera para morrer assim, para morrer antes de sua própria morte. Nascera para a vida e suas dádivas mais ardentes, num mundo de poesia e música, configurado na face da mulher, na face do amigo e na face do povo. Se tivesse tido tempo de correr pela campina, seu corpo de poeta-pássaro ter-se-ia certamente libertado das contingências físicas e alçado voo para os espaços além; pois tal era sua ânsia de viver para poder cantar, cada vez mais longe e cada vez melhor, o amor, o grande amor que era nele sentimento de permanência e sensação de eternidade."


Vinicius de Moraes



domingo, 29 de dezembro de 2013

LITERATURA: Umberto Eco (Itália / 1932 - Hoje)

"Que gosto tem viver uma história se depois não se pode, não digo contar para os amigos, mas saboreá-la de novo nas noites de tempestade, encolhido sob os cobertores?"

"O belo de ter amado está em recordar que amou."

"Nada poderá tirar-me da mente que este mundo é fruto de um deus tenebroso cuja sombra eu prolongo."

"No sangue, que tem difusões de chama em tuas faces, o cosmos cria seus risos."


Umberto Eco

sábado, 28 de dezembro de 2013

ENSAIOS PESSOAIS: Tempo é luxo

O tempo é o novo luxo. Se a vida é nosso ativo mais preciso, sentir o pulso, quem sou, o ser que desenrola em minha essência é a veia principal. É desta máxima que deriva meu encantamento com tudo que vejo, com o mundo desvelando pela fenda no espaço-tempo que desfruto. Nada há então mais lindo e importante, nada mais verdadeiro e coerente do que embriagar-me dos sentidos e ser-me em tudo que faço, enquanto dura minha breve caminhada.


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

ENSAIOS PESSOAIS: Gratidão

Tenho sentido-me tão romântico. Isso, vejo o mundo com essa aura, uma mistura de foco e desfoco que deixa tudo sutil. Parece que deslizo a ponta dos dedos na superfície da Terra, em tudo que a humanidade criou, em toda a arte e conhecimento, de forma muito delicada. Sinto fazer amor com a existência, como percorrer a pele da amante durante o sexo, com poesia.

Esse sentimento vem a mim com certo apetite, quero-o sempre mais, muito mais. Desejo ver tudo sob esta ótica, estar encantado pelas pessoas, por suas vidas desenrolando-se em frente aos olhos meus. E que eu sinta sempre com tudo que sou, profunda e suavemente, intenso e apaixonado.

A vida tornou-se um exercício de paciência. É bela demais. Generosa demais comigo. Tem colocado-me frente a situações deslumbrantes, entro em um êxtase espiritual corriqueiramente, corre entusiasmo infinito pelas veias. Não imaginava algo semelhante quando era mais jovem. Ao deixar-me levar e invadir por tal sentimento, tudo cria  velocidade diferente e proporção surreal, sinto distorcer espaço e tempo através de quem sou, uma fenda por onde enxergo algo nunca visto, crio minha própria realidade.


LITERATURA: William Shakespeare (Inglaterra / 1564-1616)

"Não tenho razão alguma para duelar com Cupido; ele não respeita estocadas, e as regras do duelo... ele nem mesmo as leva em consideração. O que o desgraça é ser chamado de 'menino', mas sua glória está em subjugar os homens. Adeus, coragem; pode enferrujar meu florete; quieto, tambor, que o seu dono está amando. Ajudai-me, algum deus dos versos extemporâneos: acho que vou criar um poema de amor. Concebe, cérebro; escreve, pena; estou a ponto de produzir soneto em cima de soneto."

"Nele, os olhos criam a deixa para o espírito brilhar, pois o olho vê o objeto, e o humor transforma-o em assunto de brincadeira que, em sua bela língua, clarim de sua inteligência, traduz-se em palavras tão hábeis e tão elegantes que os ouvidos de mais idade deixam de lado a sisudez para ouvir suas histórias, e os ouvidos mais novinhos deixam-se arrebatar por completo, pois é muito docemente que flui o discurso desse homem."



William Shakespeare


"E eu aqui, um mais-que-apaixonado bobalhão. Logo eu, que tanto chicoteei o Cupido; eu, o guarda sempre pronto a deter um suspiro de amor; um censor;   ...E eu a suspirar por ela, perdendo o meu sono por ela, rezando por ela! Que inferno! É uma praga que Cupido me impõe por haver menosprezado o seu todo-poderoso pavoroso pequeno poder. Pois bem, eu vou amar, escrever poesia, escrever bilhetinhos, suspirar, rezar, cortejar, gemer. Alguns homens amam a sua adorável dama, enquanto outros se contentam com qualquer Joana."

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

ENSAIOS PESSOAIS: Grandiosidade da obra

Acabo de ler "O Grande Gatsby", romance escrito em 1925 de autoria do americano F. Scott. Fitzgerald, posicionado entre os clássicos da literatura contemporânea. Agrada-me bastante a linguagem e muitas descrições, o tom lúdico e subjetivo com que trata diversos assuntos e também a psique de seus personagens, bem como seus dramas e estruturas dentro no conto.

Entretanto, com tamanho talento narrativo, senti falta de algo mais, de um propósito. Algumas observações e trechos levaram-me a refletir sobre os valores da emergente riqueza americana, e, consequentemente, da nossa, que somos subproduto da cultura dos EUA. Achei ótimo! Apesar de a trama ser bem sustentada e justificada, é como se o livro não tivesse alma. Os personagens são sempre movidos por um impulso aparentemente impuro. Ao findar o livro, era como se todos fossem vazios.


F. Scott Fitzgerald


Parece-me que dentre todos os atos praticados no livro, nenhum deles tenha sido feito verdadeiramente por amor. Amor pelo simples sentimento de desejar algo puro. Tive a sensação de que os impulsos e movimentos dos personagens foram motivados sempre por uma busca egocêntrica, tentar possuir algo. Possuir poder, possuir reconhecimento, possuir uma ou duas mulheres, possuir o amor.

Pus-me a pensar em alguma grande obra que houvesse inspirado-me e onde o personagem principal existisse para vivenciar o amor em sua essência, motivado pela grandiosidade de um nobre e grande feito, não para si apenas, mas para a humanidade, ou para alguém.

Lembrei de um filme belíssimo e atual, que me emociona sempre. Não consigo assisti-lo sem me desmanchar completamente. Lembro de vê-lo pela quinta ou sexta vez em companhia de minha prima e de meu pai (o cara durão), este segurou-se para não chorar, enquanto eu e ela (minha amada e heróica Martina Kunzler) ficamos em acabados. O filme é "Sete Vidas" (Seven Pounds), com Will Smith.


FILME: Sete Vidas, com Will Smith


Não quero fazer comparações entre as obras, até porque "comparações são odiosas". O fato é que no filme o personagem tem uma causa maior que a sua própria, e usa todo o seu talento, sensibilidade e perspicácia (divinamente abundantes em seu caráter), em prol de um ato nobilíssimo. Fico completamente arrepiado ao lembrar as cenas e olhares, pois para mim representam muito.

O livro não é ruim, gostei de ler, é agradável. Mas o fiz a espera de redenção, de um ato maior. Ato que o filme representa com plenitude. Que venham à mim mais obras plenas e temas que possam iluminar meu espírito. Continuo na busca.

LITERATURA: F. Scott Fitzgerald (Estados Unidos / 1896 - 1940)

"Sorriu compreensivamente — muito mais do que compreensivamente. Era um desses sorrisos que tem em si algo de segurança eterna, um desses sorrisos com que a gente talvez depare quatro ou cinco vezes na vida. Um sorriso que, por um momento, encarava - ou parecia encarar - todo o mundo eterno, e que depois se concentrava 'na gente' com irresistível expressão de parcialidade a nosso favor"


F. Scott Fitzgerald

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

LITERATURA: Clarice Lispector (Brasil / 1920 - 1977)

Sinto profundamente inspirado pela grande literatura. Incita uma leitura profunda da minha realidade quando a ela retorno. O mundo cria outra dimensão, mais sensível e diversa.

"Não, nem todo o tipo de lucidez é frieza."

"Não fui ao enterro. Porque nem todos morrem."


Clarice Lispector

ENSAIOS PESSOAIS: Sobre Amor e Sexo

Sexo é foda. Não sei ao certo se li em algum lugar essa frase, mas ela martela minha cabeça. É tudo muito complicado, as pessoas volta e meia não se entendem, os casais brigam e até às vezes fazem as pazes na cama. Porque sexo é foda demais!

"Você tem que casar com uma mulher que seja sua amiga, sua parceira", me disse um sábio amigo. Claro. Mas de preferência que ela seja muito boa de cama. Vejo alguns jovens amigos abdicando de uma vida sexual plena, aquela satisfatória, aquela vida sexual foda, e dedicarem-se a um relacionamento bonito, meigo, doce, e morno.

Vejo relacionamentos onde o casal fecha o pau direto. Fecha o tempo mesmo e parece que a porrada vai comer. Mas tem uma coisa muito forte segurando a relação. Preciso dizer? Não. É ali que a coisa flui, é ali que funciona o bagulho, na tchaca tchaca, compreende? Nestes casos, o casal esquece de que é feita uma relação harmônica entre dois seres humanos, o que importa é o Grand Finale, um orgasmo inigualável, incompreensível, nunca imaginado, mas sim, descoberto.

O que nós queremos? Simples: alguém que nos leve aos céus no amor e no sexo. Porque amor sem sexo bom é amizade. E sexo sem amizade é loucura, é bom, e ao mesmo tempo insano.

É querer demais que alguém encaixe perfeitamente em nós? Alguém que olhe de forma doce e sinta quem somos, que conheça nossas manias e até goste delas (talvez seja demais).Que conheça carinhos e palavras belas, uma pessoa generosa e sincera. Que com os olhos penetre em nosso ser e atravesse a carne comunicando sem pronunciar palavras: "Vou matar você de tesão".

E que reine sobre nosso corpo soberana, essa pessoa. Que não tenha apenas pensamentos e intenções vorazes, mas também mãos ágeis para satisfazer com perícia todos estes desejos de carne alucinada. Como uma receita da qual não nos fartamos nunca, apenas desejamos mais.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

METAFÍSICA: Fritjof Capra (Áustria / 1939 - hoje)

O PONTO DE MUTAÇÃO pg.389

Regressar a uma escala mais humana não significará um retorno ao passado, mas exigirá, pelo contrário, o desenvolvimento de novas e engenhosas formas de tecnologia e organização social. Grande parte da nossa tecnologia convencional, consumidora intensiva de recursos e altamente centralizada, é hoje obsoleta. Energia nuclear, carros de alto consumo de gasolina, agricultura subsidiada pelo petróleo, instrumentos computadorizados de diagnóstico e muitos outros empreendimentos de alta tecnologia são antiecológicos, inflacionários e perniciosos para a saúde. Elas devem ser substituídas por novas formas de tecnologia, que incorporem princípios ecológicos e sejam compatíveis com o novo sistema de valores.



Muitas destas tecnologias alternativas já estão sendo desenvolvidas. Tendem a ser descentralizadas e tendem a operar em pequena escala, a ser sensíveis às condições locais e planejadas para aumentar a auto-suficiência, propiciando, assim, um grau máximo de flexibilidade. São frequentemente qualificadas de tecnologias brandas, porque seu impacto sobre o meio ambiente é substancialmente reduzido pelo uso de recursos renováveis e por uma constante reciclagem de materiais. Coletores de energia solar, geradores eólicos, lavoura orgânica, produção e processamento regional e local de alimentos, e reciclagem de produtos residuais, são exemplos de tais tecnologias brandas. Elas incorporam os princípios observados nos ecossistemas naturais; refletem, pois, a sabedoria sistêmica. Como observou Schumacher, “a sabedoria exige uma nova orientação da ciência e da tecnologia para o orgânico, para o moderado, o não-violento, o elegante e o belo”. Tal direcionamento da tecnologia oferece enormes oportunidades para a criatividade, o espírito empreendedor e a iniciativa da humanidade. As novas tecnologias não são, em absoluto, menos sofisticadas que as antigas, mas seu refinamento é de uma espécie diferente. Aumentar a complexidade deixando simplesmente que tudo cresça não é difícil, mas recuperar elegância e flexibilidade requer sabedoria e visão criativa.


À medida que nossos recursos físicos se tornam cada vez mais escassos, também se evidencia que devemos investir mais nas pessoas – o único recurso que possuímos em abundância. Com efeito, a consciência ecológica torna óbvio que temos que conservar nossos recursos físicos e desenvolver nossos recursos humanos. Em outras palavras, o equilíbrio ecológico requer pleno emprego. É isso, precisamente, o que novas tecnologias facilitam. Operando em pequena escala e sendo descentralizadas, elas tendem a se tornar consumidoras intensivas de mão-de-obra, ajudando, portanto, a estabelecer um sistema econômico não inflacionário e ambientalmente benigno.


A mudança de tecnologias pesadas para brandas é mais urgentemente necessária nas áreas relacionadas com a produção de energia. As raízes mais profundas de nossa atual crise energética situam-se nos modelos de produção e consumo perdulário que se tornam característicos de nossa sociedade. Para resolver a crise não precisamos de mais energia, o que apenas agravaria nossos problemas, mas de profundas mudanças em nossos valores, atitudes e estilos de vida. Entretanto, ao mesmo tempo em que perseguimos esta meta a longo prazo, também devemos mudar nossa produção de energia dos recursos não renováveis para os renováveis, e das tecnologias pesadas para as brandas, a fim de alcançarmos o equilíbrio ecológico.

terça-feira, 30 de julho de 2013

FILOSOFIA: Deepak Chopra (Índia / 1946-hoje)

"O ego toma tudo pessoalmente, o que acaba sendo um grande obstáculo; a experiência está acontecendo para "mim". O budismo dispende muito tempo tentando dissipar a ideia de que este "mim" tenha algum direito de reivindicar a experiência. Em vez disso, dizem os budistas, a experiência se desenrola por si própria, e você, como experimentador, é sempre um canal. Dessa forma produzimos formulações do tipo "o pensamento é o pensamento em si". Pode ser desconcertante desenredar as complexidades de uma afirmação tão simples como "ser é", ou "o dançarino é a dança". Ainda assim, o ponto essencial é pratico: quanto menos você tomar a sua vida pessoalmente, maior a facilidade com que ela fluirá através de você. Aguardar com tranqüilidade funciona. Aguardar com ansiedade não funciona. Nem tampouco assumindo que cada experiência o eleva ou derruba. O fluxo da vida não seleciona em colunas de mais ou menos. Tudo tem seu próprio valor intrínseco, medido em energia, criatividade, inteligência e amor. Para encontrar esses valores, a pessoa deve parar de inquirir "que bem isso pode me fazer?". Em vez disso, você atesta o que acontece, deslumbrando-se com tudo."


Deepak Chopra

sexta-feira, 26 de julho de 2013

LITERATURA: Isabel Allende (Peru/Chile / 1942-hoje)

"No que se refere à alimentação e à sexualidade, a natureza exige um mínimo, bastante simples, destinado à preservação do indivíduo e da espécie; o resto são ornamentos ou subterfúgios que inventamos para festejar a vida. A imaginação é um demônio persistente, e sem ela o mundo seria branco e preto, viveríamos em um paraíso de militares, fundamentalistas e burocratas, em que a energia hoje investida na boa mesa e no bom amor seria destinada a outros fins, como matar uns aos outros com maior disciplina. Se nos alimentássemos apenas de frutas silvestres e copulássemos com a inocência dos coelhos, pouparíamos muita literatura sobre esses temas, milhares de arvores escapariam da fatalidade de se transformarem em polpa e os sete pecados capitais não incluiriam a luxuria e a gula, e com isso aumentaria significativamente o número de almas no Paraíso. Mas a natureza nos dotou - ou nos maldisse - de um cérebro insaciável, capaz de imaginar não só todo tipo de comidas maravilhosas e variantes amorosas, como também as culpas e castigos correspondentes."


Isabel Allende

sábado, 2 de março de 2013

FILOSOFIA: Bruce Lee (China/Estados Unidos / 1940-1973)


"O maior engano é antecipar o desenlance da luta.
Não pense na vitória ou na derrota.
Deixe que as coisas aconteçam.
E tudo se enquadrará no momento certo.

Estar consciente de si mesmo é um dos piores obstáculos.
Deve-se esquecer a habilidade adquirida para obter perícia.
Para transcender o Karma, deve-se saber usar a mente e a vontade."


Bruce Lee

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

LITERATURA: Virgil Gheorghiu (Romênia / 1916 - 1992)


"Os 'cidadãos' não vivem nos matos nem na selva, mas nos escritórios; contudo são mais cruéis que os animais ferozes da selva; nasceram do cruzamento do homem com as máquinas. É uma espécie bastarda, a raça mais poderosa atualmente em toda a superfície da terra. Os seus rostos parecem-se com os dos homens, e muitas vezes até arriascamo-nos a confundi-los com eles, mas percebemos imediatamente que não se comportam como homens, senão como máquinas; em vez de coração, tem cronômetros... são cidadãos... estranho cruzamento. Invadiram toda a terra".

"Uma sociedade tecnocratizada não pode criar espírito e está por consequência, lançada aos monstros".


Virgil Gheorghiu

sábado, 1 de dezembro de 2012

ENSAIOS PESSOAIS: De que adianta?

“Que diferença isso fará para a Terra? E que diferença isso fará para o Universo?” Estas duas perguntas vieram a mim como respostas, ironicamente, através da fala de um amigo, que escutava minhas queixas pacientemente. O contexto? Um sonho ‘tolo’ sobre fazer diferença e operar uma mudança, buscar a evolução.

Estamos em sete bilhões de humanos, aproximadamente... um número enorme. A Terra tem 4.5 bilhões de anos (voltas em torno do Sol), e nossa existência como Homo sapiens data de 35 mil anos. Essa espécie perambula sobre a crosta terrestre há apenas 0,0000077% de toda a existência do planeta. Em meados de 1.600 A.C os primeiros carros com rodas (carroças) andavam a uma velocidade de 30 km/h. Em 1850 as primeiras locomotivas ainda arrastavam-se a aproximadamente 50 km/h. Nos últimos 150 anos as coisas tomaram proporções inimagináveis. Hoje os satélites viajam a 30 mil km/h em órbita da Terra. Ao transportar estes dados para um gráfico, vemos uma apática linha horizontal que torna-se abrupta e vertiginosamente uma linha quase vertical!


De repente tudo tornou-se hiper. Criamos milhares de artefatos tecnológicos, remédios, parques de diversão, automóveis caros e luxuosos e relógios pomposos que medem o tempo como quaisquer outros. Empreendemos uma jornada material e constantemente vemos as pessoas (seres da nossa mesma espécie) preocupados com a conquista exclusiva do mundo físico, como se fosse esta a última finalidade da vida: possuir. Na década de noventa os gastos militares mundiais somavam um trilhão de dólares ao ano. Uma considerável quantia. Para “proteger” quem? De quê? Não ouso afirmar que existe um limite para a capacidade criativa (ou destrutiva) dos homens, mas acredito que estamos cada vez mais próximos de descobrir.  Na verdade, chego mesmo à conclusão de que criamos distrações demais para nos desviar do verdadeiro significado da vida.


UMA  GRANDE  SURUBA  

“Todo mundo tem dois pais, quatro avós, oito bisavós, dezesseis trisavós etc. A cada geração que retrocedemos, temos duas vezes mais antepassados em linha direta. Se cada geração tem, vamos dizer, 25 anos, 64 gerações atrás equivalem a 64 X 25 = 1600 anos atrás, isto é, pouco antes da queda do Império Romano. Assim, cada um de nós que está vivo hoje tinha, no ano 400, uns 18,5 quintilões de ancestrais - ou é o que parece. E isso sem falar nos parentes colaterais. Mas é muito mais que a população da Terra, então ou agora; é muito mais que o número de seres humanos que já viveram. Alguma coisa está errada com o nosso cálculo. O quê? Bem, supusemos que todos esses ancestrais em linha direta fossem pessoas diferentes. Mas, claro, não é o caso. O mesmo ancestral está relacionado conosco por muitas linhas diferentes. Somos repetida e multiplamente ligados a cada um de nossos parentes - um imenso número de vezes, no caso dos parentes mais distantes.  Se retrocedermos bastante, quaisquer duas pessoas sobre a Terra têm um ancestral em comum.” (Carl Sagan)


*As informações utilizadas como base de dados para este texto foram retiradas de três livros geniais escritos por brilhantes cientistas:

- A Teia da Vida, de Fritjof Capra (1996)
- O Choque do Futuro, de Alvin Toffler (1971)
- Bilhões e Bilhões, de Carl Sagan (1997)