sábado, 29 de outubro de 2011

FILOSOFIA: Lin Yutang (China / 1895-1976)

Lin Yutang


Certa vez li que o verdadeiro filósofo não precisa de muitos bens para se satisfazer, pois consegue enriquecer com significado as poucas coisas que possui. É uma satisfação interna, de estar bem com o corpo e o espírito. Neste quesito Lin Yutang consegue atingir a plenitude da felicidade, pois a natureza, as sensações conseguem  lhe preencher. Seus escritos são belíssimos, sua prosa é carnal e tenra.


"Para mim, os momentos verdadeiramente felizes são: quando me levanto pela manhã após uma noite de perfeito sono e aspiro o ar matinal e há uma expansibilidade nos pulmões, que me inclina a inalar profundamente, e sinto uma bela sensação de movimento em torno à pele e aos músculos do peito, e quando, por conseguinte, estou apto para o trabalho; ou quando viajo por um dia de verão, com a garganta seca, e vejo um lindo arroio límpido, cujo bisbilho me faz feliz, e tiro os sapatos e as meias e mergulho os pés na deliciosa água fresca; ou quando, depois de um jantar perfeito, me estiro em uma poltrona, e em meu redor não há ninguém que me desagrade e a conversação marcha a passo leve para um destino ignorado, e estou física e espiritualmente em paz com o mundo; ou quando em uma tarde de verão vejo negras nuvens que se reúnem no horizonte e sei que com certeza antes de um quarto de hora cairá uma bátega estival, mas como me envergonha que me vejam sair para a chuva sem guarda-chuva, corro furtivamente a receber o aguaceiro em meio aos campos e volto para casa empapado, calado, e digo à minha família, simplesmente, que fui surpreendido pela chuva."

Como é rico quem consegue apreciar as purezas e os encantos da vida e da natureza. Quão feliz soa a vida de Lin Yutang ao desfrutar tão intensa e verdadeiramente as coisas simples, que nos são disponíveis, que estão abundantes ainda em nosso Planeta. E eis que ele segue, projetando agora essa atribuição de valores para seus semelhantes, os humanos, desfrutando o gozo da vida através dos sentidos.


"Tal como me é impossível dizer se amo física ou espiritualmente meus filhos, quando ouço suas vozes ou quando vejo suas perninhas, também sou inteiramente incapaz, entre as alegrias do espírito e as alegrias da carne. Ama alguém espiritualmente uma mulher sem amá-la fisicamente? E será tão fácil para um homem analisar e separar os encantos da mulher que ama, como seu riso, seus sorrisos, a forma que tem de inclinar a cabeça, certa atitude ante as coisas? Por sermos feitos desta carne mortal, é demasiado tênue a divisão que separa a nossa carne do nosso espírito; e o mundo do espírito, com a sua emoção mais fina e sua maior apreciação da beleza espiritual, não pode ser alcançado senão com nossos sentidos. Não há moralidade ou imoralidade nos sentidos do tato, do ouvido e da vista. É muito provável que a nossa perda da capacidade para o gozo das alegrias positivas da vida se deva sobretudo à diminuição da sensibilidade de nossos sentidos, e ao fato de não os utilizarmos de forma completa."

sábado, 22 de outubro de 2011

METAFÍSICA: Fritjof Capra (Áustria / 1939 - hoje)

Fritjof Capra

" O nascimento da ciência moderna foi precedido e acompanhado por um desenvolvimento do pensamento filosófico que deu origem a uma formulação extrema do dualismo espírito/matéria. Essa formulação veio à tona no século XVII, através da filosofia de René Descartes. Para este filósofo, a visão da natureza derivava de uma divisão fundamental em dois reinos separados e independentes: o da mente (res cogitans) e o da matéria (res extensa). A divisão "cartesiana" permitiu aos cientistas tratar a matéria como algo morto e inteiramente apartado de si mesmos, vendo o mundo material como uma vasta quantidade de objetos reunidos numa máquina de grandes proporções. Essa visão mecanicista do mundo foi sustentada por Isaac Newton, que elaborou sua Mecânica a partir de tais fundamentos, tornando-a o alicerce da Física clássica. Da segunda metade do século XVII até o fim do séc. XIX, o modelo mecanicista newtoniano do universo dominou todo o pensamento científico. Esse modelo caminhava paralelamente com a imagem de um Deus monárquico que, das alturas governava o mundo, impondo-lhe a lei divina. As leis fundamentais da natureza, objeto da pesquisa científica, eram então encaradas como as leis de Deus, ou seja, invariáveis e ternas, às quais o mundo se achava submetido.

A filosofia de Descartes não se mostrou importante apenas em termos do desenvolvimento da Física clássica; ela exerce, até hoje, uma tremenda influência sobre o modo de pensar ocidental. A famosa frase cartesiana Cogito ergo sum ("penso, logo existo") tem levado o homem ocidental a igualar sua identidade apenas à sua mente, em vez de igualá-lo a todo o seu organismo. Em conseqüência da divisão cartesiana, indivíduos, na sua maioria, têm consciência de si mesmos como egos isolados existindo "dentro" de seus corpos. A mente foi separada do corpo, recebendo a inútil tarefa de controlá-lo, causando assim um conflito aparente entre a vontade consciente e os instintos involuntários. Posteriormente, cada indivíduo foi dividido num grande número de compartimentos isolados de acordo com as atividades que exerce, seu talento, seus sentimentos, suas crenças, etc., todos estes engajados em conflitos intermináveis, geradores de constante confusão meta-física e frustração.

Essa fragmentação interna espelha nossa visão do mundo "exterior", que é encarado como sendo constituído de uma imensa quantidade de objetos e fatos isolados. O ambiente natural é tratado como se consistisse em partes separadas a serem exploradas por diferentes grupos de interesses. Essa visão fragmentada é ainda mais ampliada quando se chega à sociedade, dividida em diferentes nações, raças, grupos políticos e religiosos. A crença de que todos esses fragmentos - em nós mesmos, em nosso ambiente e em nossa sociedade - são efetivamente isolados pode ser encarada como a razão essencial para a atual série de crises sociais, ecológicas e culturais. Essa crença tem nos alienado da natureza e dos demais seres humanos, gerando uma distribuição absurdamente injusta de recursos naturais e dando origem à desordem econômica e política, a uma onda crescente de violência (espontânea e institucionalizada) e a um meio ambiente feio e poluído, no qual a vida não raro se torna física e mentalmente insalubre."

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

NOVOS HORIZONTES - Bruno Maya

O Blog Íntimo Sentimento tem quase nove meses e é com imensa satisfação que gostaria de apresentar o mais novo colaborador, Bruno Maya. Além de um grande amigo e irmão, um ser esplêndido com quem tenho aprendido a viver mais plenamente, mais intensamente. Também é verdadeiro catalizador de um estado de espírito iluminado, ávido por conhecimento e por usufruir da dádiva da vida. Grande amigo, seja bem vindo e compartilhe comigo e com os leitores suas incomensuráveis descobertas. Obrigado.

Bruno Maya

(conheça o trabalho fotográfico autoral de Bruno Maya no site: http://assimqeurevelar.com/)

sábado, 1 de outubro de 2011

FILOSOFIA: Henry David Thoreau (EUA / 1817 - 1862)

"Aquele que pode lidar com suas idéias como com um material, transformando-as em poemas que deliciarão as próximas gerações, é que é um homem maior e de mais raro vigor. Um homem enérgico é aquele em quem nascem pensamentos sutis e poéticos... Quantos são os que tem liberdade de pensamento? Que estão livres do medo, da perturbação, dos preconceitos? 999 em 1000 são perfeitos escravos. Quantos são os que exercem as mais altas faculdades humanas?... Conquista-se o destino pelo pensamento. Não há trabalho mais valioso do que conceber um pensamento sobre esta vida e depois dar-lhe expressão."


Thoreau