sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

SOCIOLOGIA: Domenico De Masi (Itália / 1938 - hoje)

"O telefone celular, a televisão e a Internet já redefiniram a nossa relação com o espaço e com o tempo... A potência crescente dos computadores já alterou a nossa percepção do mundo. É portanto provável que a adoção de tecnologias ainda mais novas comporte uma maior tolerância em relação à diversidade, feedbacks mais rápidos e intensos, velozes mudanças de opinião e o nascimento de novos lobbies sociais e novos grupos de pressão, digressão das comunidades tradicionais... recomposições de novas comunidades fundadas no compartilhamento dos gostos, dos interesses e das orientações e na busca de soluções 'sob medida'."

Domenico de Masi

"Por outo lado, as oportunidades devidas ao aumento das informações disponíveis serão colhidas numa medida diferente, segundo as capacidades socioeconômicas, culturais, críticas, de filtragem e de seleção de cada um dos sujeitos sociais, com o perigo de uma posterior bifurcação entre o mundo dos privilegiados e dos excluídos (digital devide).


"As tecnologias da informação permitirão, por uma parte, formas de democracia telemática, direta, de tempo real; por outra, tentarão uma elite muito restrita a dominar todo o sistema social, favorecida pelo poder manipulador dos seus mass midia e pelo desinteresse, inculado sobretudo nos jovens, em relação ao exercício da política e dos valores de solidariedade. A New Economy subordinará a política à economia e a economia às finaças favorecida pelo crescente distanciamento entre a débil difusão da cultura humanista, cada vez mais desprezada, e a forte propagação da cultura técnica, sempre mais apreciada, causando a irresistível penetração da cultura de massa, posto avançado da mercantilização."

De Masi em 2002 já alertava-nos sobre os perigos do consumo de cultura de massa, processada em larga escala, de fácil digestão para a maior parte da população, criando alienação generalizada na maior parte das pessoas, principalmente nós, que vivemos no Terceiro Mundo. No Brasil o discurso televisivo e da maior parte das publicações e radiodifusões tem um nível baixíssimo, estampando ícones criados da noite para o dia, transformando a promessa de geração de empregos e crescimento da economia como redentores, uma espécie de tranquilizante mental e psíquico. Mas ao analisar minuciosamente os efeitos deste fenômeno social que tem menos de 60 anos, é visível uma série de doenças e desvios de comportamento sociais, inversão de valores e falta de espiritualidade em níveis patológicos alarmantes.

Como complemento e conclusão para este fabuloso e esclarecedor discurso de Domenico, selecionei um trecho de O Ponto de Mutação, livro escrito pelo gênio austríaco Fritjof Capra:

"Nos Estados Unidos, onde o consumo e o desperdício excessivos converteram-se em um modo de vida, 5% da população do mundo consomem atualmente um terço de seus recursos, com o consumo de energia per capita que é cerca do dobro do da maioria dos países europeus. Simultaneamente, as frustrações criadas e alimentadas por doses maciças de publicidade, combinadas com a injustiça social dentro da nação, contribuem para uma criminalidade e uma violência crescentes, além de outras patologias sociais. Esse triste estado de coisas é bem ilustrado pelo conteúdo esquizofrênico das revistas semanais. Metade das páginas estão cheias de histórias sombrias acerca de crimes violentos, desastre econômico, tensão política internacional e a corrida em direção à destruição global, enquanto a outra metade retrata gente feliz e despreocupada através de maços de cigarros, garrafas de bebidas alcoólicas e refulgentes carros novos. A publicidade na televisão influencia o conteúdo e a forma de todos os programas, incluindo os 'shows de notícias', e usa o tremendo poder sugestivo deste veículo - ligado durante seis horas e meia diárias pela família americana média - para modelar as imagens das pessoas, distorcer nestas o sentido da realidade e determinar suas opiniões, seus gostos e seu comportamento. A finalidade exclusiva desta prática perigosa é condicionar a audiência a comprar produtos anunciados antes, depois e durante cada programa."


Fritjof Capra

É interessante salientar que essa imagem do estilo de vida americano foi feita por Capra na década de 80, como uma doença do nosso tempo, e está cada vez mais agravada. Além disso teve um reflexo direto no comportamento dos brasileiros, que reproduzem este estilo de vida massificado e superficial, como podemos comprovar em qualquer rua das cidades nacionais.