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PONTO DE MUTAÇÃO pg.389
Regressar a
uma escala mais humana não significará um retorno ao passado, mas exigirá, pelo
contrário, o desenvolvimento de novas e engenhosas formas de tecnologia e
organização social. Grande parte da nossa tecnologia convencional, consumidora
intensiva de recursos e altamente centralizada, é hoje obsoleta. Energia
nuclear, carros de alto consumo de gasolina, agricultura subsidiada pelo
petróleo, instrumentos computadorizados de diagnóstico e muitos outros
empreendimentos de alta tecnologia são antiecológicos, inflacionários e
perniciosos para a saúde. Elas devem ser substituídas por novas formas de
tecnologia, que incorporem princípios ecológicos e sejam compatíveis com o novo
sistema de valores.
Muitas
destas tecnologias alternativas já estão sendo desenvolvidas. Tendem a ser
descentralizadas e tendem a operar em pequena escala, a ser sensíveis às
condições locais e planejadas para aumentar a auto-suficiência, propiciando,
assim, um grau máximo de flexibilidade. São frequentemente qualificadas de
tecnologias brandas, porque seu impacto sobre o meio ambiente é
substancialmente reduzido pelo uso de recursos renováveis e por uma constante
reciclagem de materiais. Coletores de energia solar, geradores eólicos, lavoura
orgânica, produção e processamento regional e local de alimentos, e reciclagem
de produtos residuais, são exemplos de tais tecnologias brandas. Elas
incorporam os princípios observados nos ecossistemas naturais; refletem, pois,
a sabedoria sistêmica. Como observou Schumacher, “a sabedoria exige uma nova
orientação da ciência e da tecnologia para o orgânico, para o moderado, o
não-violento, o elegante e o belo”. Tal direcionamento da tecnologia oferece
enormes oportunidades para a criatividade, o espírito empreendedor e a
iniciativa da humanidade. As novas tecnologias não são, em absoluto, menos
sofisticadas que as antigas, mas seu refinamento é de uma espécie diferente.
Aumentar a complexidade deixando simplesmente que tudo cresça não é difícil,
mas recuperar elegância e flexibilidade requer sabedoria e visão criativa.
À medida
que nossos recursos físicos se tornam cada vez mais escassos, também se
evidencia que devemos investir mais nas pessoas – o único recurso que possuímos
em abundância. Com efeito, a consciência ecológica torna óbvio que temos que
conservar nossos recursos físicos e desenvolver nossos recursos humanos. Em
outras palavras, o equilíbrio ecológico requer pleno emprego. É isso,
precisamente, o que novas tecnologias facilitam. Operando em pequena escala e
sendo descentralizadas, elas tendem a se tornar consumidoras intensivas de
mão-de-obra, ajudando, portanto, a estabelecer um sistema econômico não
inflacionário e ambientalmente benigno.
A mudança de tecnologias pesadas para brandas é
mais urgentemente necessária nas áreas relacionadas com a produção de energia.
As raízes mais profundas de nossa atual crise energética situam-se nos modelos
de produção e consumo perdulário que se tornam característicos de nossa
sociedade. Para resolver a crise não precisamos de mais energia, o que apenas
agravaria nossos problemas, mas de profundas mudanças em nossos valores,
atitudes e estilos de vida. Entretanto, ao mesmo tempo em que perseguimos esta
meta a longo prazo, também devemos mudar nossa produção de energia dos recursos
não renováveis para os renováveis, e das tecnologias pesadas para as brandas, a
fim de alcançarmos o equilíbrio ecológico.