"Todas as perguntas feitas pelo homem acerca de sua vida são multiplicadas pelo fenômeno da morte; pois o homem parece distinguir-se de todos os outros animais pela consciência que tem de sua própria morte e pela relutância em participar do destino natural de todos os seres vivos. Com a maçã, que deu ao homem o conhecimento do bem e do mal, a árvore da ciência produziu também um fruto mais amargo, que o homem colheu de seus ramos: a consciência da brevidade da vida individual e da morte como seu fim. Em sua luta contra a morte, não raro o homem tem atingido a um máximo de afirmação da vida: como a criança que na praia se obstina a todo custo, em levantar as paredes de seu castelo de areia antes que venha arrasá-lo a próxima onda, assim o homem, freqüentemente, faz da morte o centro de seus mais preciosos esforços, tirando da rocha os seus templos, construindo, acumulando pirâmides sobre o deserto, transformando os arremedos de força humana em visões de onipotência divina, eternizando no mármore a beleza humana, traduzindo a humana experiência na palavra impressa, e até mesmo o tempo num simulacro de eternidade, quando a arte lhe detém o curso.
Todos os seres vivos são atingidos pela morte. Desses seres é, entretanto, o homem o único que conseguiu criar, da ameaça constante da morte, uma vontade de perdurar e, do desejo de continuidade e de imortalidade em todas as suas múltiplas e concebíveis formas, uma espécie de vida mais rica de sentido, na qual o Homem redime a precariedade do indivíduo."