sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

FILOSOFIA: Henry David Thoreau (EUA / 1817 - 1862)

"Alguns homens podem ser apenas meus conhecidos, porém aquele que me acostumei a considerar, a idealizar, a imaginar como amigo, ligando-o intimamente a mim mesmo, não poderá nunca degenerar num simples conhecimento. Ou o manterei num plano elevado, ou o ignorarei de todo. Não nos confessamos nem nos explicamos porque ambicionamos estar tão intimamente ligados a ponto de nos compreendermos sem precisar falar. Nosso amigo precisa ser compreensivo. Sua atmosfera deve ser coextensiva ao universo, para nela podermos nos expandir e respirar. Pois o mais das vezes nos sufocamos e nos asfixiamos mutuamente. Quando visito meu amigo, experimento a sua atmosfera. Se as nossas atmosferas não se harmonizam, se nos repelimos fortemente, é inútil ficar.

Quão mesquinhas são as nossas relações mútuas. Esperemos até que elas sejam mais nobres. Um pouco de silêncio e de descanso fazem bem. Seria bastante cultivar as verdadeiras.

As mais ricas dádivas que podemos conceder são as menos negociáveis. Detestamos a bondade que compreendemos. Uma pessoa nobre não se confia inteiramente. Talvez para a amizade seja apenas essencial que um deposite no outro uma certa confiança vital. Sinto-me tocado e posto à prova, até às mais remotas partes do meu ser, quando alguém demonstra nobreza e fé implícita em mim, mesmo em coisas triviais. Quando tais mercadorias divinas estão tão próximas e são tão baratas, como é estranho que precisemos descobri-las diariamente. Uma ameaça ou uma praga podem ser esquecidas, porém uma confiança humilde me transporta. Não sou mais desta terra; ela age dinamicamente e transforma minha própria existência. Não posso fazer o que faria antes. Não posso ser o que era antes. Outras correntes podem partir-se, porém, no mais escuro da noite, no mais remoto lugar, eu sigo este fio. Então as coisas podem 'acontecer'. O que aconteceria se, por um momento, Deus confiasse em nós? Não seríamos deuses, então?"

 (Thoreau) 

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