Domenico de Masi
"Por outo lado, as oportunidades devidas ao aumento das informações disponíveis serão colhidas numa medida diferente, segundo as capacidades socioeconômicas, culturais, críticas, de filtragem e de seleção de cada um dos sujeitos sociais, com o perigo de uma posterior bifurcação entre o mundo dos privilegiados e dos excluídos (digital devide).
"As tecnologias da informação permitirão, por uma parte, formas de democracia telemática, direta, de tempo real; por outra, tentarão uma elite muito restrita a dominar todo o sistema social, favorecida pelo poder manipulador dos seus mass midia e pelo desinteresse, inculado sobretudo nos jovens, em relação ao exercício da política e dos valores de solidariedade. A New Economy subordinará a política à economia e a economia às finaças favorecida pelo crescente distanciamento entre a débil difusão da cultura humanista, cada vez mais desprezada, e a forte propagação da cultura técnica, sempre mais apreciada, causando a irresistível penetração da cultura de massa, posto avançado da mercantilização."
De Masi em 2002 já alertava-nos sobre os perigos do consumo de cultura de massa, processada em larga escala, de fácil digestão para a maior parte da população, criando alienação generalizada na maior parte das pessoas, principalmente nós, que vivemos no Terceiro Mundo. No Brasil o discurso televisivo e da maior parte das publicações e radiodifusões tem um nível baixíssimo, estampando ícones criados da noite para o dia, transformando a promessa de geração de empregos e crescimento da economia como redentores, uma espécie de tranquilizante mental e psíquico. Mas ao analisar minuciosamente os efeitos deste fenômeno social que tem menos de 60 anos, é visível uma série de doenças e desvios de comportamento sociais, inversão de valores e falta de espiritualidade em níveis patológicos alarmantes.
Como complemento e conclusão para este fabuloso e esclarecedor discurso de Domenico, selecionei um trecho de O Ponto de Mutação, livro escrito pelo gênio austríaco Fritjof Capra:
"Nos Estados Unidos, onde o consumo e o desperdício excessivos converteram-se em um modo de vida, 5% da população do mundo consomem atualmente um terço de seus recursos, com o consumo de energia per capita que é cerca do dobro do da maioria dos países europeus. Simultaneamente, as frustrações criadas e alimentadas por doses maciças de publicidade, combinadas com a injustiça social dentro da nação, contribuem para uma criminalidade e uma violência crescentes, além de outras patologias sociais. Esse triste estado de coisas é bem ilustrado pelo conteúdo esquizofrênico das revistas semanais. Metade das páginas estão cheias de histórias sombrias acerca de crimes violentos, desastre econômico, tensão política internacional e a corrida em direção à destruição global, enquanto a outra metade retrata gente feliz e despreocupada através de maços de cigarros, garrafas de bebidas alcoólicas e refulgentes carros novos. A publicidade na televisão influencia o conteúdo e a forma de todos os programas, incluindo os 'shows de notícias', e usa o tremendo poder sugestivo deste veículo - ligado durante seis horas e meia diárias pela família americana média - para modelar as imagens das pessoas, distorcer nestas o sentido da realidade e determinar suas opiniões, seus gostos e seu comportamento. A finalidade exclusiva desta prática perigosa é condicionar a audiência a comprar produtos anunciados antes, depois e durante cada programa."
Fritjof Capra
É interessante salientar que essa imagem do estilo de vida americano foi feita por Capra na década de 80, como uma doença do nosso tempo, e está cada vez mais agravada. Além disso teve um reflexo direto no comportamento dos brasileiros, que reproduzem este estilo de vida massificado e superficial, como podemos comprovar em qualquer rua das cidades nacionais.
muito bom..bem observado. Bem importante refletir sobre isso.
ResponderExcluirDescreveu bem a realidade atual.
Abraço, querido!
Débs, que bom que você leu e apreciou!
ResponderExcluirAbração.
Bom...eu com meu foco no positivo rsrs...qdo estive nos EUA (pela primeira vez) em agosto passado, umas das coisas que me chamou a atenção foi justamente a maior gama de opção por produtos orgânicos e a preferência dos americanos por produtoes de empresas sustentável...sendo que lá existem selos e um maior controle para que as empresas assim sejam intituladas. As pessoas com as quais conversei eram bem conscientes qto a esta questão.
ResponderExcluirQto a segregação social em função da tecnologia, também vejo uma outra perspectiva. A popularização e o mais fácil acesso aos 'devices' esta levando a informação mais rapidamente e a pessoas que não tinham acesso.
Também acredito que fica mais difícil massificar pela internet...o conteúdo é tão vasto...tão sem fronteiras...o mundo na palma da mão de cada vez mais pessoas!!! :)))
Vanessa, muito obrigado por engrandecer o debate, mas tu estás com uma visão muito poética. Fostes apenas nos lugares certos. A maioria da população mundial (e a maioria nos Estados Unidos e no Brasil e muitos outros países, exceto alguns na Europa) Come muito mal. Alimentos processados, embalados, com vários conservantes, corantes, adubados quimicamente e várias atrocidades. Basta você ir à qualquer supermercado e ver a quantidade de produtos artificiais nas gôndolas. Esses são exatamente os que recebem "doses massivas de publicidade" para que as pessoas sonhem com eles. SAD!
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