terça-feira, 27 de dezembro de 2011

LITERATURA: José Saramago (Portugal / 1922 - 2010)

"Estranhos somos todos, até nós que aqui estamos, A quem te referes, A ti e a mim, ao teu senso comum e a ti mesmo, raramente nos encontramos para conversar, lá muito de tarde em tarde, e, se quisermos ser sinceros, só poucas vezes valeu a pena, Por minha culpa, Também por culpa minha, estamos obrigados por natureza ou condição a seguir caminhos paralelos, mas a distância que nos separa, ou divide, é tão grande que na maior parte dos casos não nos ouvimos um ao outro, Ouço-te agora, Tratou-se de uma emergência, as emergências aproximam, O que tiver de ser, será, Conheço essa filosofia, costumam chamar-lhe predestinação, fatalismo, fado, mas o que realmente significa é que farás o que te der na real gana, como sempre, Significa que farei aquilo que tiver de fazer, nada menos, Há pessoas para quem é o mesmo aquilo que fizeram e aquilo que pensaram que teriam que fazer, Ao contrário do que julga o senso comum, as coisas da vontade nunca são simples, o que é simples é a indecisão, a incerteza, a irresolução..."


José Saramago

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

METAFÍSICA: Fritjof Capra (Áustria / 1939 - hoje)

Poderia e ainda irei me alongar sobre Capra aqui no blog. Mas por agora o resumo é que sua obra, na minha opinião, significa a cura total e plena, para os indivíduos, sociedade e planeta Terra. Se conseguíssemos reverter o ritmo frenético no qual nosso planetinha está imerso e aplicássemos os ensinamentos e descobertas dele, seríamos uma raça muito mais evoluída.


"A fim de possibilitar aos cientistas descreverem matematicamente a natureza, Galileu postulou que eles deveriam restringir-se ao estudo das propriedades essenciais dos corpos materiais - formas, quantidades e movimento -, as quais podiam ser medidas e qualificadas. Outras propriedades como som, cor, sabor ou cheiro, eram meramente projeções mentais subjetivas que deveriam ser excluídas do domínio da ciência. A estratégia de Galileu de dirigir a atenção do cientista para as propriedades quantificáveis da matéria foi extremamente bem sucedida em toda a ciência moderna, mas também exigiu um pesado ônus, como nos recorda enfaticamente o psiquiatra R. D. Laing: 'Perderam-se a visão, o som, o gosto, o tato e o olfato, e com eles foram-se também a sensibilidade estética e ética, os valores, a qualidade, a forma; todos os sentimentos, motivos, intenções, a alma, a consciência, o espírito. A experiência como tal foi expulsa do domínio do discurso científico'. Segundo Laing, nada mudou mais nosso mundo nos últimos quatrocentos anos do que a obsessão dos cientistas pela medição e pela quantificação"



Fritjof Capra

domingo, 11 de dezembro de 2011

FILOSOFIA: Anton Dohrn (Alemanha / Nápoles 1840/1909)

Um gênio em todas as dimensões, Anton Dohrn foi um grande adepto e seguidor das idéias de Darwin, mas muito mais que isto, organizou, criou e administrou de forma espetacular um dos primeiros institutos de pesquisa biológica, botânica e em várias outras áreas. Suas contribuições para a evolução da ciência, de métodos, aparelhos para investigação da evolução das espécies e sua dedicação a uma causa superior são imensuráveis.


Em uma citação de seus escritos pessoais, um trecho destacou-se dos demais, dando brilho e trazendo luz à minha mente. Uma forma de expressar parte do meu sentimento com relação ao organismo social instituído na sociedade e uma centelha do que sinto com relação ao meu trabalho.


"A verdade é que me iludo dizendo que o verdadeiro objetivo da minha vida era o de criar este grande laboratório. Pois isso não é verdade. Eu queria algo diferente. Quem sabe se alcançarei? Eu queria criar espiritualmente, viver espiritualmente, concluir minha existência numa atmosfera de civilização interior. Mas nos tempos de hoje isso é mais difícil do que antes: a selvagem e apressada vida de hoje arrasta consigo até aqueles que tentam opor resistência... os arrasta e só Deus sabe para onde."


Anton Dohrn

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

FILOSOFIA: Bertrand Russell (Inglaterra / 1872-1970)

Bertrand Russel foi um grande pensador, crítico da corrupção, dos vícios, do capitalismo exacerbado e de todos os costumes nocivos ao bem estar do ser humano e sociedade. Além de filósofo, foi excelente matemático escritor e polemista. Em 1950 lhe foi outorgado um Prêmio Nobel por seus notáveis escritos sobre ideais humanitários, de liberdade de pensamento e expressão. Mobilizou manifestantes e estudantes de Cambridge contra a bomba atômica e os sicilianos contra a máfia.

Bertrand Russell



Dentre os 15 artigos publicados na sua coletânea intitulada "O Elogio ao Ócio", destaco esta passagem em que faz uma crítica feroz ao comportamento de consumo de grande parte de uma minoria abastada. Um câncer social que já era criticado em meados da década de 1930 e até hoje permanece insolúvel e nocivo.




OS RICOS DESEMPREGADOS 


Os males do desemprego são conhecidos por todos. As agruras dos trabalhadores, as perdas para a comunidade e os efeitos desmoralizantes da impossibilidade de arranjar trabalho são temas tão familiares que é desnecessário nos alongarmos sobre eles.

Os desmpregados ricos são um outro tipo de mal. O mundo está cheio de gente desocupada, a maioria mulheres, que tem pouca educação, muito dinheiro e, conseqüentemente, uma enorme presunção. Sua riqueza lhes permite fazer devotar ao próprio conforto uma grande quantidade de trabalho. Embora raramente possuam verdadeira cultura, elas são as grandes benfeitoras das artes, que provavelmente só lhes agradam quando são de má qualidade. Sua inutilidade as impele a um sentimento irreal, o que as leva a não apreciar a sinceridade e a exercer uma influência nefasta sobre a cultura. Nos Estados Unidos, em especial, onde os homens que ganham dinheiro vivem ocupados demais para gastá-lo consigo mesmos, a cultura é amplamente dominada pelas mulheres que só sabem se dar ao respeito reivindicando para os maridos o domínio da arte de gastar dinheiro.

A existência de ricos desempregados tem outras conseqüências lamentáveis. Embora a tendência moderna seja, nas indústrias mais importantes, de existirem poucas grandes empresas em vez de muitas pequenas empresas, ainda há várias exceções a esta regra. Veja-se, por exemplo, a quantidade de lojas desnecessárias que há em Londres. Em todos os lugares onde as mulheres ricas fazem suas compras existem inúmeras lojas de chapéus, geralmente mantidas por condessas russas, cada uma se dizendo mais refinada que as outras. Suas clientes vagueiam desta para a seguinte, gastando horas e horas numa compra que deveria ser questão de minutos. O trabalho dos que atendem nas lojas e o tempo dos que compram nelas é igualmente jogado fora. E há o mal adicional de que o sustento de muita gente depende deste tipo de futilidade. O poder de compra dos muito ricos gera ao seu redor um grande número de parasitas que temem ficar arruinados se não houver mais gente rica e desocupada para comprar seus artigos. São pessoas que sofrem moral, intelectual e artisticamente de uma insolúvel dependência do poder desses tolos. 



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

MÚSICA: Bon Iver (Estados Unidos - 2011)

Neste dia recebo através da assinatura de conteúdo de Benjamin Francis Leftwich a notícia: Bon Iver é indicado a 4 Grammys. Não é música apenas. É a artéria pulsando, levando vida às células dos ouvintes. As letras são belíssimas, imprevisíveis, puras, atingem o mais alto grau da espiritualidade humana. Além de serem únicas, mesclam-se à uma melodia madura, leve, orgânica. A lenda diz que todo o álbum, entre melodias e versos foram compostas em uma casa no campo pelo artista Justin Vernon, durante um tempo de reclusão exclusivamente dedicando-se à isto. De qualquer forma, sente-se nitidamente que o clima incitado na obra, flui perfeitamente nas passagens de faixa para faixa. Bon Iver é definitivamente mais que música, é a conexão com o espírito e os espíritos de toda a vida na Terra.

Justin Vernon - Bon Iver