quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

FILOSOFIA: Bertrand Russell (Inglaterra / 1872-1970)

Bertrand Russel foi um grande pensador, crítico da corrupção, dos vícios, do capitalismo exacerbado e de todos os costumes nocivos ao bem estar do ser humano e sociedade. Além de filósofo, foi excelente matemático escritor e polemista. Em 1950 lhe foi outorgado um Prêmio Nobel por seus notáveis escritos sobre ideais humanitários, de liberdade de pensamento e expressão. Mobilizou manifestantes e estudantes de Cambridge contra a bomba atômica e os sicilianos contra a máfia.

Bertrand Russell



Dentre os 15 artigos publicados na sua coletânea intitulada "O Elogio ao Ócio", destaco esta passagem em que faz uma crítica feroz ao comportamento de consumo de grande parte de uma minoria abastada. Um câncer social que já era criticado em meados da década de 1930 e até hoje permanece insolúvel e nocivo.




OS RICOS DESEMPREGADOS 


Os males do desemprego são conhecidos por todos. As agruras dos trabalhadores, as perdas para a comunidade e os efeitos desmoralizantes da impossibilidade de arranjar trabalho são temas tão familiares que é desnecessário nos alongarmos sobre eles.

Os desmpregados ricos são um outro tipo de mal. O mundo está cheio de gente desocupada, a maioria mulheres, que tem pouca educação, muito dinheiro e, conseqüentemente, uma enorme presunção. Sua riqueza lhes permite fazer devotar ao próprio conforto uma grande quantidade de trabalho. Embora raramente possuam verdadeira cultura, elas são as grandes benfeitoras das artes, que provavelmente só lhes agradam quando são de má qualidade. Sua inutilidade as impele a um sentimento irreal, o que as leva a não apreciar a sinceridade e a exercer uma influência nefasta sobre a cultura. Nos Estados Unidos, em especial, onde os homens que ganham dinheiro vivem ocupados demais para gastá-lo consigo mesmos, a cultura é amplamente dominada pelas mulheres que só sabem se dar ao respeito reivindicando para os maridos o domínio da arte de gastar dinheiro.

A existência de ricos desempregados tem outras conseqüências lamentáveis. Embora a tendência moderna seja, nas indústrias mais importantes, de existirem poucas grandes empresas em vez de muitas pequenas empresas, ainda há várias exceções a esta regra. Veja-se, por exemplo, a quantidade de lojas desnecessárias que há em Londres. Em todos os lugares onde as mulheres ricas fazem suas compras existem inúmeras lojas de chapéus, geralmente mantidas por condessas russas, cada uma se dizendo mais refinada que as outras. Suas clientes vagueiam desta para a seguinte, gastando horas e horas numa compra que deveria ser questão de minutos. O trabalho dos que atendem nas lojas e o tempo dos que compram nelas é igualmente jogado fora. E há o mal adicional de que o sustento de muita gente depende deste tipo de futilidade. O poder de compra dos muito ricos gera ao seu redor um grande número de parasitas que temem ficar arruinados se não houver mais gente rica e desocupada para comprar seus artigos. São pessoas que sofrem moral, intelectual e artisticamente de uma insolúvel dependência do poder desses tolos. 



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